O
itocentas mil pessoas morrem a cada dia no mundo. Esse número de
pessoas mortas sob as mais diversas circunstâncias
é muito maior do que noventa por cento das cidades no mundo ou mais,
só não é menor que a taxa de nascimentos aferida globalmente já
que em várias regiões do mundo, principalmente em países
desenvolvidos o número de nascimentos ou o crescimento demográfico
aferido apenas dos cidadãos nativos é menor.
Quando morre qualquer pessoa, famosa, celebridade ou anônima, nos
círculos mais íntimos ou nos comentários gratuitos, muitas pessoas
dizem “chegou a hora, Deus sabe o que faz” contradizendo o que a
Bíblia diz referente aos mesmos acontecimentos, excetuando pessoas
em circunstâncias bastante singulares.
Há,
de fato, três cosmovisões dominantes e prevalentes em todas as
culturas mundiais: o determinismo, a reencarnação e o livre
arbítrio. Claro que essas compreensões não subsistem
independentemente de algum credo ou religião e são de algum modo
absorvidos por não religião e até adaptados para círculos
materialistas.
De fato também, qualquer
uma dessas cosmovisões atenuam a perda e dureza da realidade do
juízo pós a morte, tão desprezado, ignorado e zombado pelo homem
moderno, civilizado e principalmente ocidental.
Mas qual a
realidade? qual a real concepção? qual a real compreensão do
acidente doméstico do aclamado e reconhecido apresentador?
Vejamos inicialmente a visão determinista:
Principalmente no cristianismo, ou mais exatamente um dos
ramos deste, os calvinistas, de cinco pontos, de quatro pontos e até
os de três pontos, acreditam sinceramente que não existindo o tão
combatido e detestado por eles, o livro arbítrio, Deus determina a
vida e a morte de todos os seres humanos, sejam quem forem, Claro que
para fortalecer a sua crença pretensiosa em uma suposta e insensível
eleição e predestinação, se esmeram em afirmações
inconsequentes e irresponsáveis. De forma sintética significaria
que Deus mataria todas as pessoas, desde as formas mais patéticas
até as mais terrivelmente cruéis, o que nega toda a afirmação do
caráter perfeito de Deus.
Sob essa
patética compreensão Deus matou o Gugu no casuístico episódio
doméstico. Só que essa afirmação dita de modo público seria um
acinte, uma ofensa, uma blasfêmia contra o próprio Deus. Sob essa
ótica absurda, todos os feminicídios, infanticídios e abortos
seriam obras de Deus. Tomemos os crimes, assassinatos, abusos e etc,
por mais absurdos e nada palatáveis seriam e são obra de Deus.
Alguns podem ainda argumentar, desses deterministas
bíblicos, que a morte de quem quer que for, promovida por Deus,
seria o direito divino e o justo exercício do juízo divino, o que
seria totalmente razoável, é contraditado pela mais crassa
realidade pois há tantos indivíduos claramente deploráveis e vis
que não têm nem gripe. Deus seria então omisso ou terrivelmente
trapalhão em seus julgamentos punindo bobagens e sendo complacente
com maldades mais terríveis?
Não é
só no determinismo religioso que uma certa dose de destino fatal se
manifesta na crença das pessoas mas no próprio materialismo
dialético expresso numa espécie de obscura fatalidade da qual
ninguém escape como na série de filmes de curioso sucesso “Pânico”,
que por mais que as personagens fossem “avisadas” eram fatalmente
ceifadas.
As demais visões também
deterministas mas cujo determinismo travestido de fatalismo justo é
nelas expresso e justificado de ceta forma é exatamente nas várias
soluções de reencarnação. Na reencarnação a pessoa sofre de
doenças, passa por situações e é vitimada por acidentes ou crimes
exatamente por pressupostamente ter cometido hipoteticamente algum
delito, pecado ou crime merecedor da mesma punição ou entre aspas,
correção espiritual.
Qual a real compreensão da
realidade?
Todos os seres vivos, exatamente por serem
“seres vivos” é a capacidade de nas diversas situações por
eles vivenciadas encontrarem “soluções criativas”. Isso é tão
válido para nós seres humanos, auto considerados o ápice da
capacidade intelectual como para formiga, uma bactéria, um vírus,
embora biologicamente esses últimos nem tenham cérebro. Os
calvinistas ficarão fulos ao terem que admitir a força que a vida
seja de fato autônoma e que cada ser vivo escolhe a todo o tempo
retroceder ou avançar, ser autêntico ou mentir seja por algum
estratagema ou alguma camuflagem.
Imagine, como naquelas fantásticas competições, milhares de
dominós enfileirados e colocados estrategicamente de modo que se
casualmente retirado ou empurrado algum em algum ponto do grandioso
desenho, todos os seguintes sejam derrubados modificando todo o
quadro. É exatamente assim que se manifesta todos os eventos na vida
de qualquer ser vivo incluídos aí, nós seres humanos, filhos de
Deus, inclusive.
Se todas as coisas,
todos os eventos já estivessem escritos, seriam impossíveis ou
terrivelmente injustificáveis boa parte dos eventos ordinários da
vida de cada um de nós. Sob esse aspecto exatamente podemos
compreender que embora o apresentador Gugu Liberato tenha sido um
filho exemplar, cidadão, pai, marido exemplar, fica claro que que a
sua morte fique, sob todos os aspectos, repito, afastada a hipótese
espúria de “um castigo de Deus” ou alcance de algum delito em
“alguma vida passada”. Deus não matado ou ou o Gugu Liberato,
Deus não o avisou ou deixou de avisá-lo desse terrível acidente,
como Deus não avisa a qualquer um de nós por uma simples quebra de
uma unha ou de uma gripe. Essas coisas ordinárias que podem ser
desde um tropeção, uma torção no pé a um capotamento automotivo
fazem parte dos eventos simplesmente resultantes de eventos
fortuitos, caóticos, interligados, sucessivos e casuísticos que
resultam da própria natureza tos dos eventos produzidos por seres
vivos em sua interação com as leis da física e dos conflitos entre
seres biológicos que casualmente ocupam e disputam o mesmo espaço
no universo material m que todos e todas as coisas estão
inseridas.
Mas por que isso nunca isso é dito as
pessoas?
Primeiramente porque
uma certa dose de mentira, de delírio, ou de fantasia parece ser
mais consolador que a verdade absoluta.
Quem não se lembra da vez que Jesus disse uma verdade tão
claramente que depois de todos terem confessado a sua compreensão
indubitável disseram para si mesmos em tom mais de afirmação do
que de interrogação: “quem poderá suportar essa palavra?”
A verdade é que a cada evento ordinário e com
final trágico e fatal, poderia ter ocorrido um escape, igualmente
natural e até milagroso. Fato tão verdadeiro que todos nós só
sobrevivemos para lermos estas linhas ( até mesmo eu que as escrevo
) por termos sobrevivido e termos tido o escape de cada um deles:
seja um atropelamento na infância, uma doença infantil, um engasgo,
a uma viagem adiada, por termos passado em tal lugar um pouco antes
ou muito depois, ou não termos ido a determinado lugar.
Explicações fantasiosas e mirabolantes, sejam
teológicas, cristãs ou não, forçadamente “espirituais” fogem
da mais absoluta verdade.
Me lembram
o fato dos amigos de Jó serem criticados e punidos por Deus,
exatamente por sua falta de exatidão em seus julgamentos contra Jó,
pressupostamente explicando a desgraça sobrevinda sobre o temente
Jó.
Os amigos de Jó agiram como
religiosos, tentaram explicar com bases religiosas a situação de
Jó, desconhecendo e desprezando as reais e possíveis razões. O
mesmo fazem os religiosos hoje diante das catástrofes e das mortes
das vítimas sejam de crimes ou de acidentes domésticos como o do
grande apresentador.
Como fica a
cosmovisão cristã católica dos imaginários “anjos da guarda”
ou como ficam as aplicações genéricas do famoso salmo 91, ou como
fica a presumida inviolabilidade do cristão visto como um
super-homem capaz de sobreviver aos mais incríveis desastres? claro
que esse tipo de consolação simplista agrada ouvidos de pessoas
religiosas que nem ao menos se quedam em aprender com a realidade ou
com toda a revelação encontrada nas Escrituras.
Como fica igualmente o fatalítico e frio determinismo
calvinista que objetivamente declara que Deus o matou? mesmo porque
para eles Deus mata todas as pessoas no dia e na hora que Ele Deus
achara determinado ( fato que não é desse modo ).
Religiosos sempre pintam um quadro agradável a sua
linha de pensamento já sim, predeterminada. A palavra ‘herege’
no grego tem origem no verbo ‘escolher’, logo um herege é aquele
que faz uma escolha religiosa, política, teológica anterior e
qualquer coisa que diga ou faça, qualquer argumento ou defesa tem
menos a ver com alguma realidade mas com seus interesses e objetivos
lógicos de sua fé, igreja e religião e menos com a mais clara
verdade objetiva.
Desse modo o
apresentador Gugu Liberato morreu por uma patética fatalidade, um
acidente, o qual qualquer um de nós, e não somente nós, qualquer
ser vivo está inteiramente suscetível, por ser um ser vivo e que
faz avaliações e escolhas a cada instante de sua própria vida. Não
há outra explicação, consolo ou ‘justificação’.
Qual a grande lição já que não podemos mudar o
passado, nenhum fato já acontecido no tempo? tirar uma lição,
conforme advertência explícita da própria Palavra de Deus: não
sabemos a que hora será pedida a nossa alma, ou por extinção de
toda a energia vital, por alguma enfermidade, idade, exposição à
condições extremas, crime por parte de outros seres humanos ou
simples e pueril acidente.
Nenhuma
causa morte pode matar a alma, mas o corpo pode de fato morrer, pois
é mortal, mas a alma terá que sucedida a morte, dar contas a Deus,
ao Criador e doador da vida, e sem a fé em Jesus Cristo, durante a
vida e em pleno gozo de sua escolha e razão, nenhum ser humano pode
esperar ser salvo após a sua morte, por melhor cidadão, pai ou mãe
de família, religioso, etc, is o padrão de justiça divina não
definitivamente ser atingido por nenhum de nós.
Como já dissemos, oitocentas mil pessoas morrem todos os dias no mundo,
desde causas naturais, passando por assassinatos, doenças e
acidentes de toda a ordem. Todas essas pessoas são almas que podem
ter crido em Cristo, terem sido salvas ou haver sido perdidas
definitivamente e a responsabilidade de cada perdição individual é
só de cada uma delas, de mais ninguém, no sentido mais objetivo,
pois podem nunca terem pensado seriamente na simples existência de
Deus ou se o fizeram, podem ter criado um ‘deus’ mais
conveniente às suas pretensões e mais adequado a seus
valores,pretensas liberdades individuais, pecados arraigados e
interesses pessoais, bem como ganhos sociais e relações temporais
com pessoas e instituições.
Há um
Juízo Final marcado para que todos os seres humanos, do primeiro ao
último sejam aprovados e rejeitados e uma pena individual imposta a
cada um pelo que fez com a dádiva da vida um dia recebida. Essa
realidade nem é tanto teológica ou religiosa mas filosófica: a
razão exige que isso ocorra, embora não consigamos imaginar em
todos os detalhes como isso ocorrerá.
Curiosamente, os povos antigos, os povos primitivos, guardaram e
guardam uma noção simples disso, enquanto o homem moderno, a
sociedade moderna, tecnológica, educada, culta, capaz de abstrações
e questionamentos mais profundos, herdeira de uma longa história e
pensamentos diversos, tacitamente despreza esse juízo exigido por
uma justiça e zomba de uma realidade que extrapole a própria vida.
Por Helvécio S. Pereira*
* graduado em Desenho, plástica, história da Arte pela EBA/UFMG
graduado em Pedagogia FAE/UEMG